quarta-feira, 8 de março de 2017

NO MUNDO DE 2020 / SOYLENT GREEN (1973) - ESTADOS UNIDOS



O VERDE DA DESESPERANÇA

A explosão demográfica e poluição dizimaram os recursos naturais do planeta, relegando a humanidade a habitar guetos urbanos em uma sociedade plutocrata (sistema político no qual o poder é exercido pelo grupo mais rico). Essa premonição da desintegração do ecossistema é o tema central de No Mundo de 2020 (curioso título brasileiro já que se passa em 2022!). Thorn (Charlton Heston) começa a perceber que tropeçou não num caso de um simples assassinato, mas algo verdadeiramente complexo onde sua vida passa a pouco valer diante de um segredo que não pode vir a tona. Nosso indígete tenta, a todo custo, resolver um caso que o poder atuante quer que seja arquivado



Richard Fleischer (Guerreiros de Fogo) levou às telas o romance de Harry Harrison, cuja temática mostra uma alegoria pessimista de uma sociedade que cai em ruínas, com seus recursos cada vez mais escassos passando a racionar tudo para o cidadão comum. Liberdades são vigiadas, a lei é imposta. Frutas e carnes (raríssimos) são conseguidos por ricos no mercado negro a peso de ouro. A maioria sobrevive com um novo alimento: os soylent (uma junção de soja (soy) com lentilha (lentil)) que possuem três cores: amarelo, vermelho e agora o mais recente: o verde (daí o Soylent Green). Esse alimento sintético, controlado pelas Indústrias Soylent, abastece metade do mundo. São os últimos recursos da flora e da fauna marinha. 


A população recebe sua cota e sobrevive miseravelmente (dormindo em ruas, escadas de prédios...) com o que possui. O ricos vivem opulentamente, com direitos a prostitutas de luxo, guarda-costas e recursos que a plebe ignora completamente. Nessa sociedade temos o Detetive Thorn (Charlton Heston),  encarregado de investigar o assassinato de um magnata:  William R. Simonson (Joseph Cotton). Thorn é um anti-herói propriamente falando: possui uma moral duvidosa e um comportamento ambíguo, onde não hesita em usurpar utensílios de cenas de crimes ou nas casas de investigados, objetos que  se tornaram raros como uma colher, sabonete ou uma garrafa de bebida fina. Se utiliza da imunidade que lhe é concedida em seu cargo (poucos possuem empregos). Dá abrigo ao seu parceiro de investigações, um senhor que é referido como "livro" (são pessoas bem mais velhas que ainda conheceram um mundo que continha animais, água potável e um sistema social viável). Thorn nasceu depois e sua realidade é a que sempre conheceu. Solomon "Sol" Roth (o "livro") relembra fatos e histórias (não há jornais ou tvs) e sensações que Thorn nunca terá como saborear, como, por exemplo, uma geleia de morango (que Sol reconhece imediatamente). Sol lhe ajuda em suas investigações porque ainda detém o conhecimento antigo. O idoso é um personagem obsoleto, que está perto do fim. Um fim que a sociedade também conseguiu criar para aqueles que não se interessam mais em continuar vivendo (e que diante de uma quadro de superpopulação até incentivam) . E Sol acaba sendo um dos personagens mais carismáticos do filme (na pele do ator  Edward G. Robinson, que morreu de câncer duas semanas após a conclusão do filme).


Falando em personagens podemos destacar o ator Chuck Connors (dos seriados "O Homem do Rifle" e "Raízes") como o perigoso guarda-costas do falecido empresário, além da atriz Leigh Taylor-Young (Shirl) no papel de uma casta da sociedade criada para "servir" pessoas ricas. Shirl veio junto com o apartamento comprado por Simonson (como um acessório / "furniture" em inglês) e, após a morte deste, cabe ao novo proprietário aceitá-la ou não. É chamada de "garota utensílio". Thorn cai de encantos pela jovem e percebe ser correspondido. 
Charton Heston é o fio condutor da história e não há dúvidas de que sua presença garantiu o filme. Heston ficou conhecido por filmes como "Ben-Hur"; "Os Dez Mandamentos" e "Planeta dos Macacos". Era um astro incontestável e excelente ator.




A trilha sonora é o ponto alto do filme, principalmente na cena de Sol indo para a clínica. Há uma junção de Tchaikovsky, Beethoven e Grieg que caiu na cena como uma luva. A fotografia (a cargo de Richard H. Kline, colaborador frequente do diretor) envelheceu em alguns momentos e o cenário não é tão mais futurista como os espectadores dos anos setenta imaginavam. Mas a história é bem conduzida por Fleischer (de "20.000 Léguas Submarinas" e "Conan, o Destruidor") que poderia ter ousado um pouco mais na crítica poderosa que o filme faz e num ritmo mais dinâmico e menos seco. Mas ainda assim o filme marcou muitas gerações que reservam na memória o desfecho do filme. Alguns críticos viram o filme, anos mais tarde, como um pré "Blade Runner" (pelo conceito) e, sim, senti essa sensação em um momento do filme (mas não dá para compará-lo ao filme de Ridley Scott).


A grande discussão vem do romance "Make Room, Make Room!" de Harry Harrison que fez um longo artigo onde falou de suas desilusões quanto a adaptação de sua obra. Alegou que teve que assinar um contrato onde não poderia interferir no roteiro. Revelou que novos ingredientes foram inseridos como a concubina Shirl, a eutanásia e a revelação do grande mistério que nada tem a ver com seu livro. E a época não seria datada em 2022. A não utilização do título de seu livro foi justificada pelos Estúdios por lembrar uma antiga série de tv americana. O autor elogiou a forte concepção visual e a grande atuação do elenco.



No mundo de 2020 é um filme ainda poderoso em sua mensagem: o ser humano degrada o planeta e os recursos e,  um dia, estará perto do fim. É atualíssima sua visão do caos e merecia uma refilmagem caprichada com os recursos disponíveis atuais, mas provavelmente não ocorrerá (ver o motivo em curiosidades). 
Filme visualmente datado, mas que ainda lança uma discussão sobre o futuro da humanidade. Se você gosta de filmes antigos pode ser uma boa oportunidade de ver ou rever uma produção muito comentada ao longo dos anos.

Trailer 


Curiosidades:
 
Estreou, na tela pequena, em agosto de 1983 pela Tv Gobo, posteriormente, foi exibida pela rede Bandeirantes em 1994.

O ator Edward G. Robinson escondeu dos demais integrantes do filme seu câncer terminal. Seu falecimento ocorreu 2 semanas após a filmagens. Sua última cena no filme foi, ironicamente, a de seu descanso final. Foi o 101º filme do ator.

Charlton Heston ganhou o Oscar de Melhor Ator por "Ben Hur" (1959)

Harry Harrison informou que, depois desta experiência de ver sua obra "mutilada" pelos estúdios, abandonou qualquer plano de ver algum de seus livros irem para os cinemas novamente.

Mike Henry, que foi Tarzan nos cinemas em 3 oportunidades ("Tarzan e o Menino da Selva"; "Tarzan e o Grande Rio" e "Tarzan e o Vale do Ouro"), participa, em rápidas aparições, como um homem da policia. 



Whit Bissell (1909 - 1996), que aparece como o governador Santini ficou famoso pelo seriado "Tunel do Tempo" onde fazia o General Heywood Kirk. Bissell participou de várias produções como "A Máquina do Tempo" de 1960 e sua versão para Tv "A Máquina do Tempo" de 1978.


Edward G. Robinson ganhou no Festival de Cannes o prêmio de melhor ator por "Sangue do Meu Sangue" (1949).

Kevin Joseph Aloysius Connors (Chuck Connors) faleceu, aos 71 anos, de câncer de pulmão e pneumonia. Foi jogador de Baseball profissional. Tinha 1,97 metros. Conheceu nesta produção a atriz Faith Quabius que interpretou uma atendente. Eles se casaram em 1977 e se divorciaram dois anos depois.

John Charles Carter (Charlton Heston) faleceu, aos 84 anos, em decorrência do estado avançado de Mal de Alzheimer .

Whitner Nutting Bissell (Whit Bissell) faleceu, aos 86 anos, em decorrência do Mal de Parkinson.


Premiações:
Melhor filme no Festival Fantástico de Avoriaz (1974).
Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films (Melhor Filme de Ficção Científica).
Science Fiction and Fantasy Writers of America.

Trilha sonora:
Sinfonia nº 6 ("Pathetique) Tchaikovsky.
Sinfonia nº 6 ("Pastoral") Beethoven.
Peer Gynt Suite ("Morning Mood") Edward Grieg.


Filmografia Parcial:
Charlton Heston (1923 - 2008)
 









Julius Caesar (1950); O Maior Espetáculo da Terra (1952); As Aventuras de Búfalo Bill (1953); O Segredo dos Incas (1954); A Selva Nua (1954); Os Dez Mandamentos (1956); A Marca da Maldade (1958); Da Terra Nascem os Homens (1958); Ben-Hur (1959); A Maior História de Todos os Tempos (1965); Agonia e Êxtase (1965); O Senhor da Guerra (1965); ...E o Bravo Ficou Só (1967); O Planeta dos Macacos (1968): De Volta ao Planeta dos Macacos (1970); A Última Esperança da Terra (1971); À Sombra das Pirâmides (1972); No Mundo de 2020 (1973); Os Três Mosqueteiros (1973); Aeroporto 1975 (1974); Os Quatro Mosqueteiros: A Vingança de Milady (1974); Terremoto (1974); Pânico na Multidão (1976); S.O.S. - Submarino Nuclear (1978); A Montanha do Ouro (1982); Quanto Mais Idiota Melhor 2 (1993); Tombstone - A Justiça Está Chegando (1993); True Lies (1994); O Planeta dos Macacos (2001); Genghis Khan: The Story of a Lifetime (2010).


Chuck Connors (1921 -1992) 
 










A Hora Zero (1955); O Festim da Morte (1957); Da Terra Nascem os Homens (1958); Sangue de Apache / Gerônimo (1962); A Marca do Vingador (1966); Capitão Nemo e a Cidade Flutuante (1969); A Fuga dos Homens Pássaros (1971); Pancho Villa (1972); No Mundo de 2020 (1973); Armadilha para Turistas (1979); Virus (1980); Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! - 2ª Parte (1982); Seita de Horrores (1987); Três Dias para Matar (1992).

Leigh Taylor-Young
 






O Abilolado Endoidou (1968); No Mundo de 2020 (1973);  A Música Não Pode Parar (1980); Admiradora Secreta (1985); O Fio da Suspeita (1985); Dallas (seriado 1987 a 1989) ; Força de Viver (1993);  Confissões Assassinas (1994); Picket Fences (seriado 1993 a 1995); Sunset Beach (seriado 1997); O Retorno da Família Addams (1998);  Hellraiser V: Inferno (2000); Mentiras & Trapaças (2002);  Ritual (2002); Passions  (seriado 2004 a 2006);  Encontro no Café (2006);  Spiritual Warriors (2007); The Wayshower (2011); Mariette in Ecstasy (2019)


Brock Peters (1927 - 2005) 
 








Carmen Jones (1954); A Mulher que Pecou (1962); O Sol É Para Todos (1962); O Pior dos Pecados (1963); O Homem do Prego (1964); Aventura Submarina (1968); Os Quatro da Ave Maria (1968); O Império dos Homens Maus (1970); No Mundo de 2020 (1973); Pânico na Multidão (1976); Ameaça no Supersônico  (1977); A Incrível Jornada da Dra. Meg Laurel  (1979); Jornada nas Estrelas IV - A Volta para Casa (1986); Alligator 2 - A Mutação (1991);  Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida (1991); Fantasmas do Passado (1996).

Edward G. Robinson (1893 - 1973) 
 









O Último Gangster (1937); Eu Sou a Lei (1938); O Lobo do Mar (1941); Pacto de Sangue (1944); Paixões em Fúria (1948); Os Dez Mandamentos (1956); A Cidade dos Desiludidos (1962); Robin Hood de Chicago (1964); Crepúsculo de Uma Raça (1964); A Mesa do Diabo (1965); O Ouro de Mackenna (1969); Canção do Sol da Meia Noite (1970); No Mundo de 2020 (1973).
 
Joseph Cotten  (1905 -1994)
 










Cidadão Kane (1941); Duelo ao Sol (1946); Sob o Signo de Capricórnio (1949); O Expresso de Pequim (1951); Coração Indômito (1952); Torrente de Paixão (1953); A Marca da Maldade (1958); Da Terra à Lua (1958); O Último Por-do-Sol (1961); O Ódio é Minha Lei (1968); Latitude Zero (1969); Tora! Tora! Tora! (1970); O Abominável Dr. Phibes (1971);  No Mundo de 2020 (1973); Aeroporto 77(1977); O Último Brilho do Crepúsculo (1977); Concorde (1979); O Massacre da Guiana (1979); O Portal do Paraíso (1980).

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