segunda-feira, 29 de agosto de 2016

BEN- HUR / BEN-HUR (2016) - ESTADOS UNIDOS




NOVA VERSÃO ADAPTADA AOS TEMPOS ATUAIS

Judah Ben-Hur (Jack Huston) é um príncipe que vive com sua irmã Tirzah (Sofia Black-D'Elia), sua mãe Naomi (Ayelet Zurer) e seu meio-irmão adotivo Messala. Judah é de origem judaica, Messala Severus (Toby Kebbell), um órfão romano. Apesar de inseparáveis, o jovem romano se percebe como inferior na casa de sua famíia adotiva e resolve se alistar nas forças romanas para conquistar a glória e respeito de todos. É uma época conturbada, com os romanos ocupando Jerusalém e enfrentando os Zelotes (que explicado de uma forma bem simplista, e dentro do filme, seria um movimento político que lutava contra os romanos e pregava o conflito pelas armas). Nesta realidade Ben-Hur vive seu dia-a-dia sem oposição aberta aos romanos e sem apoio aos Zelotes, ou seja, sua família tenta ser neutra (até certo ponto) no conflito. 


 

Após 3 anos sem dar notícias, Messala retorna não mais como soldado, mas como um oficial graduado, cuja missão é dar fim as oposições aonde quer que surjam e garantir a chegada e permanência segura de Pôncio Pilatos. Messala quer que Ben-Hur aponte os rebeldes, mas mesmo não simpatizando com os Zelotes, este é contrário a qualquer atitude que considere  mais derramamento de sangue.




Um infeliz incidente ocorre a partir da casa de Ben-Hur, que percebendo o que acontecerá a sua família resolve assumir a culpa e poupá-los. O jovem príncipe termina por ser condenado as Galés romanas, cuja liberdade se dá através da morte e fica sabendo que Messala condenou sua irmã e mãe à crucificação. Sua esposa Esther (Nazanin Boniadi) conseguira fugir e passa a seguir um homem cujos milagres e pensamentos estão transformando as pessoas. Mesmo inocente, Ben-Hur sobrevive 5 anos nos remos de sua prisão náutica, mas uma reviravolta permite que possa voltar e executar sua vingança.




A primeira coisa que se deve ter em mente é que este novo longa não é uma refilmagem da versão de 1959. Quem assistiu o antigo e grandioso filme no cinema ou em reprises décadas depois, em circuitos cinematográficos, ou mesmo da Tv ao Blu-Ray deverá saber que há diversas discrepâncias da versão estrelada pelo ator Charlton Heston, um épico que desafia o tempo, e a estrelada pelo ator Jack Huston (neto do falecido diretor John Huston e sobrinho da atriz Anjelica Huston). 



Primeiro, este novo Ben-Hur não é uma superprodução. O filme custou 100 milhões é verdade, mas fica uma impressão apenas de um filme caro (“300” custou 65 milhões e “Gladiador” ficou em torno de 103 milhões). Se fizermos uma comparação, apenas orçamentária com “Gladiador”, já começam os problemas. Ben-Hur (em sua quarta versão) é uma história famosa, que já deu muito certo e, com os efeitos atuais, teria tudo para repetir o sucesso. Mas algo não deu certo (pelo menos, por enquanto, nas bilheterias dos Estados Unidos). A divulgação do filme foi fraca (muita gente só soube do filme quando estreou e alguns nem sabem da existência até o momento). E isso é grave. Ou não acreditaram no filme ou apostaram que o filme por si só despertaria a ida aos cinemas.



Na antiga versão, Ben-Hur (Charlton Heston) é homem rico e amigo de infância de Messala (Stephen Boyd). Aqui a história os tornam irmãos (antes que me perguntem, não li o livro escrito pelo general da Guerra Civil Americana, Lew Wallace, do século XIX, da qual se originam os filmes). Temos agora um Pôncio Pilatos que, na versão anterior, era um governador romano. Um acidente que se tornou “atentado” na versão de 1959 e, agora, um erro de julgamento e certa ingenuidade de Ben-Hur. Os anos de Ben-Hur como um galeriano (escravo nas galés) são iguais em conceito, mas sua fuga e atitudes são diferentes. Temos as corridas de Bigas e um final bem diferente nessa versão mais recente.



Ben-Hur (2016) tem qualidades e defeitos, que não o tornam melhor que o filme de 1959, mas também não é um filme que possa ser classificado de ruim. 
Suas qualidades são a presença maior na história de Jesus (interpretado, diga-se de passagem muito bem, pelo ator brasileiro Rodrigo Santoro), numa caracterização na medida exata e uma grata surpresa. A versão de 1959 é uma história de Jesus, se percebermos bem, mas este aparece em pouquíssimos momentos. Morgan Freeman é um grande ator, sem necessidade de apresentações. O ator marca sua presença novamente, com o personagem que ajuda o protagonista em seu confronto com Messala. A corrida de Bigas é o ponto alto do filme, que cresce muito perto do fim. 
Seus defeitos também aparecem na mesma proporção: Ben-Hur e Messala serem irmãos ficou um pouco forçado até mesmo pelas atitudes deste último. Melhor se fossem amigos que se desentenderam e transformaram-se em inimigos como na versão anterior.  Jack Huston não teve, neste filme, a força interpretativa de Heston, mas quem assistir esta versão pela primeira talvez até ignore esse fato em prol da história. Toby Kebbell faz um Messala, para muitos, hesitante, mas temos que entender que aqui ele é meio irmão e não um grande amigo que se tornou um inimigo ferrenho. Ainda assim sua atuação ficou um pouco abaixo do esperado. E isso é algo a ser citado: Huston e Kebbell são a dupla principal, mas os que se destacam são Freeman, Santoro e Pilou Asbæk com seu Poncios Pilatos. Aliás, o prefeito da província romana da Judeia está em uma caracterização bem diferente que costumamos ver: irônico, sádico, sem compaixão e pouco interessado nas questões religiosas da época. Essa versão de Pilatos passa a impressão que qualquer não romano que o interpelasse seria sumariamente enforcado e que nenhum sacerdote ou membro religioso o convenceria a nada. Ainda assim a crucificação de Jesus acontece (mas não há julgamento, nem a famosa cena do todo poderoso prefeito romano), lembrando que o rosto de Jesus não é visto no longa 59 e ainda assim passa uma dramaticidade incrível.



Ben-Hur, do diretor  Timur Bekmambetov ("O Procurado" - 2008 -) é um filme interessante, voltado àqueles que nunca viram as antigas versões e, sem um termo de comparação, poderão achar um bom filme ainda que não vá configurar na lista de melhores filmes de todos os tempos como seu antecessor, nem conquistar doze Oscars (se é que vai levar algum !). É um filme para os pais levarem seus filhos e apresentarem essa história de amizade, traição, redenção e perdão (aqui um fator bem diferenciado). Muitos o verão como uma refilmagem pobre, outros como um bom filme de época romana (e existe uma legião de admiradores desses filmes) com mais elementos religiosos e ação e há aqueles que o perceberão como uma produção cristã caprichada. De certa maneira é tudo isso, pois o público é muito diversificado e os gostos também. Vale a pena assistir por Freeman, Santoro e a corrida de bigas final (talvez o grande momento do filme). Pela bela mensagem de perdão em que o filme apostou, fugindo da vingança a todo custo que permeiam as produções há décadas.

Trailers legendados:
Trailer 1:



 Trailer 2


Curiosidades:

As versões de Ben Hur para o cinema foram: 1907 (um curta), 1926 (ambas mudas), 1959 e 2016.

Ben- Hur, de 1959, levou onze estatuetas . Além deste, somente Titanic (1997) e O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei (2003) conseguiram o mesmo número de prêmios.

O filme é baseado no livro Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo (1880), de Lew Wallace.

Houve uma Minissérie homônima em 2010.

Tom Hiddleston ( o Loki de "Thor" e "Vingadores") foi cogitado para o papel principal.

John Ridley, um dos roteiristas, conquistou o Oscar por "12 Anos de Escravidão" (2013).

Cartazes:















Filmografia Parcial:
Jack Huston
Uma Garota Irresistível (2006); Outlander: Guerreiro vs Predador (2008); A Saga Crepúsculo: Eclipse (2010); Tal Pai, Tal Filho (2012); Trem Noturno para Lisboa (2013); Trapaça (2013); Ben-Hur (2016).

Toby Kebbell
Alexandre (2004); Controle: A História de Ian Curtis (2007); Rock'n'Rolla: A Grande Roubada (2008);Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (2010); O Aprendiz de Feiticeiro (2010);Cavalo de Guerra (2011);Fúria de Titãs 2 (2012); Planeta dos Macacos: O Confronto (2014); Quarteto Fantástico (2015); Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016); Ben-Hur (2016); Kong: A Ilha da Caveira (2017).

Rodrigo Santoro
Bicho de Sete Cabeças (2001); Abril Despedaçado (2001); Carandiru (2003); As Panteras: Detonando (2003); Simplesmente Amor (2003); 300 (2006); Leonera (2008); O Golpista do Ano (2009); Heleno (2011); O Último Desafio (2013); 300: A Ascensão do Império (2014); Pelé: O Nascimento de uma Lenda (2016; Ben-Hur (2016).

Morgan Freeman
 
O Homem do Prego (1964); Attica: A Rebelião Sangrenta (1980); Brubaker (1980); Meu Pai, Eterno Amigo (1984); Meu Mestre, Minha Vida (1989); Conduzindo Miss Daisy (1989); Tempo de Glória (1989); Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões (1991); O Poder de um Jovem (1992); Os Imperdoáveis (1992); Um Sonho de Liberdade (1994); Epidemia (1995); Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995); Amistad (1997); Na Teia de Aranha (2001); O Apanhador de Sonhos (2003); Todo Poderoso (2003); Menina de Ouro (2004); Batman Begins (2005); Xeque-Mate (2006); O Contrato (2006); Antes de Partir (2007); A Volta do Todo Poderoso (2007); O Procurado (2008); Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008); Invictus (2009); Red: Aposentados e Perigosos (2010); Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012); Oblivion (2013); Truque de Mestre: O 2º Ato (2016); Ben-Hur (2016).

Marwan Kenzari
De laatste dagen van Emma Blank (2009); Wolf (2013); A Acusada (2014); Busca sem Limites (2016); Ben-Hur (2016); A Promessa (2016); A Múmia (2017); Onde Está Segunda? (2017); Assassinato no Expresso do Oriente; O Anjo do Mossad (2018); Aladdin (2019); Instinto (2019); The Old Guard (2020); Balestra (2021)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

PRECIOSA: UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA / PRECIOUS (2009) - ESTADOS UNIDOS







PRODUÇÃO INDEPENDENTE, PREMIADA E DE QUALIDADE

Harlem, 1987. Claireece Jones, também conhecida como “Preciosa”, não tem motivos para ser feliz. Estuprada pelo pai Carl (Rodney "Bear" Jackson) desde criança, teve um filho, aos 16 anos,  com Síndrome de Dawn.  A mãe vive em casa, recebendo dinheiro da assistência social. Abusa, espanca e humilha Preciosa, além de consentir os abusos do marido  e culpá-la por tal. Sofre Bullying no colégio. É humilhada nas ruas do Harlem por ser gorda, por sua cor e por ser semianalfabeta, além de ser levada pela mãe a acreditar ser incapaz de aprender algo na escola. Uma vida sem amor, sem namorados e sem entender o que fez de tão ruim para merecer tudo isso. Mas a vida ainda não desistiu de destruí-la. Preciosa descobre estar novamente grávida, vítima de um novo estupro do pai e uma terrível notícia surgirá desse episódio. 




Indicado a seis Oscars e vencedor de duas estatuetas nas categorias Melhor Atriz Coadjuvante (Mo'Nique) e Melhor Roteiro Adaptado (Geoffrey Fletcher), Preciosa é um filme independente, o segundo do diretor Lee Daniels.
Denso, envolvente e comovente. O espectador é pego com um soco no estômago a cada 15 minutos. Os sentimentos são os mais variados: indignação, revolta, comoção, identificação. Fica difícil ser indiferente em um filme, cujo o tema pode ser extremamente real e que nesse momento alguém pode estar passando pelo mesmo drama. 



Claireece vive num mundo de terror, não  em um mundo da fantasia cinematográfica. Não há fantasmas ou assombrações. Mas há monstros e estes são bem reais. Seus monstros vivem dentro de casa, lugar onde deveria sentir mais protegida. As únicas pessoas que parecem se importar são  sua professora Ms. Rain (Paula Patton) que, aos poucos, começa a entender o mundo de Preciosa e num misto de incredulidade e muita coragem resolve interferir a favor de sua aluna, cujo destino parece ser cada vez mais terrível. E  a assistente social, Ms. Weiss (Mariah Carey)que percebe o real  inferno que sofre Preciosa e resolve dar um basta na situação. 




Mary (Mo'Nique) é uma personagem criada para gerar revolta e desconforto no espectador. Uma mãe cruel, alcoólatra e omissa, que prefere manter o marido em casa do que proteger sua filha deste. A saída é colocar a culpa na filha por todo tipo de infortúnio que lhe acontece e fechar os olhos “para quem paga as contas”. “Preciosa” sofre bullying na escola de seus “colegas” e é atormentada psicologicamente e fisicamente em casa.  Mary tem a custódia de Preciosa e de sua filha, o que lhe garante a possibilidade de ficar em casa vendo televisão o dia inteiro e ganhar o seguro social do governo.
Um dos pontos altos do filme é quando Ms. Weiss (Mariah Carey) resolve colocar Mary contra a parede e surge a revelação do porquê de toda a insanidade na vida de sua filha. Um momento de alta carga dramática, onde todos os envolvidos dão um show de interpretação e deixam o espectador meio que sem ação.



Destaques para Gabourey Sidibe (Preciosa) em seu primeiro papel; a memorável interpretação de Mo'Nique (a mãe), uma atriz de comédias e com uma interpretação visceral  e a cantora Mariah Carey (irreconhecível no papel de assistente social). Mo’nique, inclusive, foi abusada pelo irmão quando criança e carregou sua interpretação nas memórias de sua terrível experiência.





Preciosa é um filme seco, angustiante com uma história que nem todos conseguirão digerir. É um filme que, quando termina, leva a inúmeras reflexões, sobre vida, filhos, escola, incesto, violência... Uma gama de temas que o diretor Lee Daniels soube extrair do livro e transpor de maneira incômoda, mas obrigatória. 
Preciosa não é um filme de final feliz. Como na vida real os finais ficam por conta do destino, mas o espectador pode ter uma noção bem clara, diante do quadro da jovem qual este será. Filme obrigatório para quem gosta de cinema, que leva a reflexão e para quem procura cinema de qualidade, ainda que apresente um tema espinhoso.


Trailer:



Curiosidades:

O filme se chamaria Push, como no livro de Sapphire de 1996, mas como já existia um filme de 2009 com esse nome (“Heróis”, no Brasil), optou-se por colocar o titulo de Precious o que fez com que o livro, em que foi inspirado, passasse a ser reimpresso com o título do filme.

A apresentadora Oprah Winfrey foi uma das produtoras executivas do filme.

O ator Lenny Kravitz aparece em cena como enfermeiro.

O filme custou em torno de 10.000.000 e arrecadou quase 50.000.00 de dólares nos Estados Unidos


Principais Premiações:

Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Mo'Nique)
Oscar de Melhor Roteiro Adaptado
Globo de Ouro: Melhor Atriz Coadjuvante em Cinema (Mo'Nique)
Satellite Award de Melhor Roteiro Adaptado
Prêmio Independent Spirit de Melhor Atriz (Gabourey Sidibe )
Prêmio Independent Spirit de Melhor Filme
BAFTA de Cinema: Melhor Atriz Coadjuvante (Mo'Nique)
Prêmio do Sindicato dos Atores: Melhor Atriz Coadjuvante (Mo'Nique)
Festival de Sundance 2009 : Grande Prêmio do Júri



Indicações:

Melhor filme (perdeu para "Guerra ao Terror")
Melhor Direção (perdeu Para "Guerra ao Terror")
Melhor Atriz ( Sandra Bullock levou pelo filme "Um Sonho Possível")
Melhor Montagem (Perdeu para "Guerra ao Terror")


Filmografia Parcial:
Gabourey Sidibe










Preciosa: Uma História de Esperança (2009); Roubo nas Alturas (2011); Sete Psicopatas e um Shih Tzu (2012); Pássaro Branco na Nevasca (2014); Halloween Macabro (2015); Empire (seriado 2015 -2017).

Mo'Nique










3 Vezes em Apuros (2000); No Corredor da Morte (2002); Matadores de Aluguel (2005); Domino: A Caçadora de Recompensas (2005); Irish Jam (2006); Preciosa: Uma História de Esperança (2009); Interwoven (2016); Almost Christmas (2016).

Paula Patton










Hitch: Conselheiro Amoroso (2005); Déjà Vu (2006);Espelhos do Medo (2008); Preciosa: Uma História de Esperança (2009); Missão: Impossível - Protocolo Fantasma 92011); Dose Dupla (2013); Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016); Zerando a Vida (2016) 

Mariah Carey










Procura-se uma Noiva (1999); Glitter: O Brilho de uma Estrela (2001); Zohan: O Agente Bom de Corte (2008); Preciosa: Uma História de Esperança (2009); O Mordomo da Casa Branca (2013);Popstar: Sem Parar, Sem Limites (2016)

Lenny Kravitz










Zoolander (2001); Preciosa: Uma História de Esperança (2009); Jogos Vorazes (2012); O Mordomo da Casa Branca (2013); Jogos Vorazes: Em Chamas (2013);