sábado, 31 de outubro de 2015

TERRITÓRIO INIMIGO / ENEMY TERRITORY (1987) - ESTADOS UNIDOS




FILME ESCAPISTA, MAS QUE TEM SEUS FÃS

Barry é um vendedor de seguros cujas metas estabelecidas pela empresa não são mais alcançadas e  culpa seu chefe por ter mudado seu território. Seu chefe, "para lhe dar uma força”, consegue uma chance de fechar uma apólice de seguros de uma professora aposentada de 70 anos, chamada Elva Briggs, no valor de 100.000 dólares, bastando colher sua assinatura, ganhando assim uma ótima comissão. Mas há um pequeno detalhe: é sexta-feira, final do dia. Barry deverá fechar o negócio num dos bairros mais perigosos da cidade, aonde a polícia não vai à noite. Separado da esposa, devendo pensão alimentícia dos filhos e sabendo que se não conseguir, na segunda-feira será feito por outro colega de trabalho, Barry aceita.

  
Ao chegar ao prédio, coloca a mão no ombro de um menino para solicitar uma informação. É confrontado por este, sendo salvo por um segurança idoso que lhe informa que aquela parte do conjunto de prédios é controlada por uma gangue chamada de “Vampiros”. Ao tentar sair do prédio, Barry é interceptado pelo líder (Tony Todd) que, após uma discussão, mata o segurança. Barry consegue a ajuda de Will (Ray Parker Jr), um trabalhador da companhia telefônica que foi se encontrar com a namorada no final de seu turno. Ambos terão que tentar escapar do prédio com toda a gangue em seu encalço.


Território Inimigo foi um daqueles filmes que fizeram muito sucesso na época do VHS, onde foi muito alugado, além de algumas exibições pela TV aberta. A produção de Charles Band (um produtor de vários filmes B, em sua maioria de terror), dirigida pelo diretor Peter Manoogian ("Mandroid - O Exterminador" ou "Os Eliminadores"), conseguiu realizar um filme de baixo orçamento, mas com muita criatividade.  A dupla central, vivida pelos atores Gary Frank e Ray Parker Jr (o cantor da famosa música "Ghostbusters", do filme "Os Caça-Fantasmas"), consegue prender o público. Apesar de Ray Parker estar com uma atuação fraca, a tensão proporcionada por um roteiro dinâmico ocultou suas possíveis falhas. O clima claustrofóbico, com uma iluminação escura, deu o resultado esperado, assim como a intenção de manter um constante perigo rondando os protagonistas. O ator Tony Todd, na pele do vilão, foi quem conseguiu maior destaque posteriormente, onde protagonizou outro filme que faria muito sucesso: "O Mistério de Candy Man" (aquele que se o nome fosse repetido 3 vezes virava uma criatura sobrenatural e eliminava as pessoas) e a franquia "Premonição". Todd consegue desenvolver um ótimo personagem, que ameaça um prédio inteiro, invadindo apartamentos, batendo em pessoas e não poupando qualquer um que impeça a captura da dupla. 


Barry e Will se esgueiram entre os poucos moradores que lhe acolhem, recebendo a ajuda de dois personagens chaves: Toni Briggs (Stacey Dash), jovem destemida que é neta de Elva  e que tentará tirar a dupla do prédio em meio a perseguição da gangue e seu líder. Stacey Dash virou atriz em várias participações de seriados, além de participar de vários videoclipes musicais. O segundo personagem fica por conta de Parker (Jan-Michael Vincent) na pele de um paralítico, veterano do Vietnã, que construiu um apartamento-fortaleza e é temido pelos Vampiros, por ser considerado louco e por ter um verdadeiro arsenal dentro de sua residência. Jan-Michael Vincent faz um homem paranoico que pensa ser um alvo para atentados, reclama de sua condição, do governo e da sociedade. Vincent ficou conhecido por dois seriados populares: "A Ilha do Perigo" (exibido dentro do antigo programa dos Bananas Splits) e por ser o piloto do seriado de sucesso "Águia de  Fogo" que passava na Globo na década de 80. Seu personagem, apesar de uma breve aparição, ficou na lembrança de quem viu este filme.
 


Território inimigo até hoje é lembrado por seus fãs. Por não ter sido disponibilizado em mídia, no Brasil, ou reprisado, tornou-se um filme que muitos gostariam de rever. Claro que não há como não fugir do climão dos anos 80, pois tem alguns ingredientes essenciais: um humor, às vezes, involuntário, coadjuvantes que só fazem correr de um lado para o outro, situações meio forçadas e cenas esquisitas como um dos membros da gangue, mortalmente ferido, levantar e atacar a dupla como se fosse um Zumbi (até na aparência), destoando completamente do tom de “seriedade” do filme.  Hoje pode ser visto como um filme escapista, oitentista, de baixo orçamento, mas ainda é um bom filme. 


Trailer:



Curiosidades:

De acordo com Ray Parker Jr., ele se divertiu durante as filmagens. Quando perguntado sobre como era trabalhar com Jan-Michael Vincent, Ray disse: "Ele estava um pouco louco, ele me bateu com a cadeira de rodas!". Como a maioria do trabalho de Vincent em filmes e programas de TV na época, ele bebia regularmente no set.

Se enquadra em um certo gênero chamado "filme preso", onde o protagonista é pego em uma situação de vida ou morte e deve fazer o que deve fazer para sobreviver à noite. Outros filmes que seguem essa fórmula são Uma Jogada do Destino (93) , Um Drink no Inferno (96) & Warriors - Os Selvagens da Noite (79)

Filmado no Lower East Side de Manhattan, New York City.


Cartaz:











Filmografia Parcial

Tony Todd:









Platoon (1986); Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (1987); Território Inimigo (1987); As Cores da Violência (1988); Bird (1988); A Noite dos Mortos-Vivos (1990); O Mistério de Candyman (1992); O Corvo (1994); Candyman 2 - A Vingança (1995); A Rocha (1996);Prova de Fogo (1997);O Mestre Dos Desejos (1997); Premonição (2000);  Premonição 2 (2003);  O Homem da Terra (2007); Premonição 5 (2011); Agoraphobia (2015) 
 
Gary Frank:









Território Inimigo (1987); A  Arma Proibida (1989); Um Distinto Cavalheiro (1992); Prisioneiras da Violência (1987) e participações em séries.

Stacey Dash:









Voando Alto (2003); Nunca é Tarde Para Amar (2007).


Jan-Michael Vicent (1945–2019)







Os Bandidos (1967); Jamais Foram Vencidos (1969); O Soldado que Declarou a Paz  (1970); A Ilha do Perigo / Bananas Split (seriado 1968 -1979); A Mancha do Passado (1971); Assassino a Preço Fixo (1972); O Maior Atleta do Mundo (1973); Inferno no Asfalto (1975); O Amor não Vai à Guerra (1976); Força Vigilante (1976); Herança Nuclear (1977); Amargo Reencontro (1978); Hooper, o Homem das Mil Façanhas (1978); O Retorno (1980); Terra Indomável (1981); O Último Voo (1983); Águia de Fogo (episódio Piloto 1984); Águia de Fogo (seriado 1984-1986); Fugitivos de Alcatraz (1987); Território Inimigo (1987); Nascido em Los Angeles (1987); As Aventuras de Tarzan em Nova York (1989); Alienator - A Exterminadora Indestrutível (1990); O Ouro é Minha Lei (1990); Nervos de Aço (1991); Armadilha Fatal (1993); No Limite da Vingança (1995); A Montanha Mágica (2000); White Boy (2002)


Ray Parker Jr.







Aconteceu num Sábado (1974);  Território Inimigo (1987); Três Trapalhões da Pesada (1987); O Maior Presente de Natal (1990); 


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O HOMEM DA TERRA / THE MAN FROM EARTH (2007) - ESTADOS UNIDOS






SURPREENDENTE E REFLEXIVO CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICA

O professor de história John Oldman, em sua festa de despedida, revela a seus amigos, especialistas de diferentes áreas, ser um real representante do Homem do Alto Paleolítico, o homem das cavernas moderno, que teria evoluído durante 14.000 anos ao ser humano que seria hoje. Entre piadas e chacotas por parte do grupo, cria-se, aos poucos, uma atmosfera de seriedade devido a posição mantida por John. Após um a um dos questionamentos serem inicialmente respondidos, alguns resolvem "entrar na brincadeira" e levar o caso para a área filosófica, arqueológica e religiosa. Diante da contínua afirmação de John de que realmente é um homem "eterno", as pessoas começam a duvidar de seus conceitos de vida e terão que descobrir se a história é real ou produto de uma farsa.


O diretor Richard Schenkman habilmente construiu um filme de ficção científica que não se parece como tal. Tem efeitos especiais? Não. Tem um grupo de atores, uma cabana, poucos móveis, pois John está de mudança, e uma lareira. Se não tem efeitos, tem o que afinal? Diálogos científicos e filosóficos e uma aula sobre a evolução humana com direito a explicações e desconstruções de ideias e conceitos.

 
Schenkman pegou a história escrita por Jerome Bixby (1923–1998), roteirista de filmes como "Viagem Fantástica" (1966);" No Limite da Realidade" (1983) e, para a Televisão, episódios de "Além da imaginação" e "Jornada nas Estrelas" (1966), transformando O Homem da Terra em um filme de diálogos. E não há diálogos longos.  Apenas questionamentos com respostas rápidas, astutamente feitas para o fácil entendimento do grande público. Não há longas explanações filosóficas, apenas a construção de uma teoria que vai sendo adicionada com informações pelos personagens que ali estão: um antropologista; um arqueólogo e sua aluna; uma professora de arte e devota cristã, um psiquiatra, um biólogo e uma historiadora que é apaixonada por John.  O motivo pela qual O Homem da Terra não seja conhecido é devido não ter sido lançado comercialmente na época. No Brasil não existe dublado. O filme pode ser encontrado na internet e na Amazon. O diretor resolveu liberar sua divulgação que fez com que muitos tomassem conhecimento da obra.


A medida que a história avança as pessoas tentam entender o que há por trás do relato do “Homem das Cavernas” que alega ter viajado com Colombo, ter contraído a Peste Negra (Peste Bubônica) e ter tido lições com Buda. O antigo e o novo testamento são postos à prova com suas revisões através do tempo. O grupo acha a história de John fascinante: uns passam a crer que faz sentido, uma anomalia genética poderia ter criado um ser humano imortal, outros entendem que John está criando um personagem para um livro, que os está fazendo de idiotas ou que apresenta uma doença avançada que alterou sua lógica.



Os questionamentos são muito interessantes, como na passagem de um dos personagens que revela que se este “ser” existisse ele levantaria pelo menos dois sentimentos: admiração e ódio. Ódio pela inveja de não morrer, de poder viver várias vidas, desaparecendo durante alguns anos e reaparecendo como outra pessoa. John alega ter dez doutorados, mas que nunca vai viver com a pessoa que ama até o fim. Verá todos os seus filhos falecerem por acidentes, doenças ou velhice e nunca poderá ter amigos duradouros, pois com o passar dos anos sua aparência (sempre na casa dos 30) o denunciará. Uma vida nômade, condenado a viver, esperando uma morte que talvez nunca venha. John não sabe se é imortal. Sabe que não adquire cicatrizes, mas acredita que uma arma de fogo pode matá-lo (logo, seria amortal). Delírio, verdade ou apenas um passatempo despretensioso que se transformou em discussão e que John levou longe demais e agora não sabe como terminar sem ofender seus amigos? O espectador descobrirá no fim.

 
O elenco é muito bom. David Lee Smith, ator oriundo de filmografia televisiva, saiu-se muito bem na pele do homem que conta uma história fantástica como pretexto para sua partida. Curiosamente, em alguns momentos, ele lembra o ator Michael Weiss da ótima série The Pretender. Para quem gosta de caras famosas temos Tony Todd (Candyman, Território Inimigo e Premonição), William Katt (do seriado da década de 90 - O Super Herói Americano) e Richard Riehle, veterano em participações na tv e cinema como Chuva Negra e Tempo de Glória.


Filme bastante intrigante onde a questão real é a confrontação da história do mundo como o conhecemos. Se ela é realmente verdadeira ou se, em muitos aspectos, foram, ao longo dos anos, criados fatos para preencherem algumas lacunas vazias. Filmes que questionam ensinamentos religiosos suscitam sempre discussões calorosas e os mais fervorosos podem não gostar da visão que John tem para revelar no filme. Talvez esta seja a parte mais emblemática e o diretor poderia ter evitado a discussão, que certamente afastará o filme de uma grande parcela que possui firmes crenças religiosas. Corajosamente, resolveu “tocar na ferida” de um assunto muito particular. O personagem Edith é a personificação dos que contestarão a revelação de John e o motivo pela qual sua história sofre uma mudança de curso. 


O filme é um grande e especulativo conto de ficção científica que se passa na mente do espectador que vai criando o mundo relatado por John. A produção poderia ter colocado o personagem nas diversas situações que narra e ter incrementado o figurino e os efeitos, criando cenários digitais, mas muito em parte por não ter um orçamento viável em mãos preferiu que, cada um que o assistisse, concebesse o filme à sua maneira, o que dá esse tom especial a quem o vê.


Pode ser visto como uma analogia ao famoso “Mito da Caverna” de Platão. Sua função é a reflexão sobre o que faríamos com tanto tempo, sobre como são nossas crenças e credulidades, como o ser humano reage quando as regras imutáveis que conhece apresentam divergências e como aproveitamos nossa (curta) vida.  Esqueça os dogmas religiosos e pense como o mundo evoluiu até hoje.


SPOILER (ao final da postagem)
  
O espectador não deve entender John como um personagem real. Ele é um conjunto de ideias e doutrinas (em sua maioria) que divergem do pensamento atual. Não quer dizer que seja ou certo ou errado. É apenas uma visão proposta do filme, materializada em um personagem, acrescentado de elementos, que tornem a história compreensível.
O grande mérito deste filme independente foi ter sido filmado em uma cabana com uma trama em tempo real em seus 90 minutos de projeção e prender a atenção do início ao fim de uma forma inteligente.  



É um filme mais indicado para aqueles que gostam de “pensar fora do aquário”, que podem receber determinadas informações sem que isso abale suas convicções. É aceitar que nem todos veem o mundo como nós e que isso não é uma ofensa ou uma confrontação. É, antes de tudo, um amadurecimento. Vale a pena dar uma conferida neste subestimado filme que tem, como a cereja do bolo, um final surpresa.
 
Trailer:



 

Curiosidades:

Continuação: O Homem da Terra : Holoceno (2017)

Foi a última obra do roteirista Jerome Bixby, falecido em 1998. O diretor conseguiu a história através de um amigo que conhecia o filho de Bixby.

Jerome Bixby escreveu para Jornada nas Estrelas os episódios Mirror, Mirror (entre os 10 melhores da série), "Day of the Dove", "Requiem for Methuselah", e "By Any Other Name . 

No site oficial do filme há informações sobre as diversas premiações em festivais que o filme angariou como o “Rio de Janeiro International Fantastic Film Festival (RioFan)” e várias seleções como no “Mostra Curta Fantástico of São Paulo” e “Festival Cinema de Salvador”

O diretor revelou em seu site ter buscado inspiração no filme “12 Homens e uma Sentença” que trabalha na mesma perspectiva: pessoas confinadas em um recinto em tempo real

O filme foi considerado pelo site IMDB como o 298º melhor filme de todos os tempos e o 43º melhor filme independente de todos os tempos
 

Site oficial do filme : http://www.manfromearth.com/index.php


Filmografia Parcial:
David Lee Smith:








Clube da Luta (1999); Um Amor Para Recordar (2002); Mistérios da Carne (2004); Zodíaco (2007); O Homem da Terra (2007); Crimson Winter (2013);  e participações em seriados


William Katt:




Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); Carrie, a Estranha (1976); O Super-Herói Americano (1981 -1983); A Casa do Espanto (1986); A Casa do Espanto IV  (1992); Cyborg 3: A Criação (1994); O Pestinha 3 (1995); Rastro de Pavor (1996); Amor em Dobro (1999); Cobras (2002); O Homem da Terra (2007); Espelhos do Medo 2 (2010);


Tony Todd:









Platoon (1986); Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (1987); Território Inimigo (1987); As Cores da Violência (1988); Bird (1988); A Noite dos Mortos-Vivos (1990); O Mistério de Candyman (1992); O Corvo (1994); Candyman 2 - A Vingança (1995); A Rocha (1996); Prova de Fogo (1997); O Mestre Dos Desejos (1997); Premonição (2000);  Premonição 2 (2003); O Homem da Terra (2007); Premonição 5 (2011); Agoraphobia (2015)

 
Richard Riehle:










Chuva Negra (1989); Tempo de Glória (1989); Neblina e Sombras (1991); Herói por Acidente (1992); Corpo em Evidência (1993); Free Willy (1993); O Fugitivo (1993); Cassino (1995); Momento Crítico (1996); Estranha Obsessão (1996); 187: O Código (1987); Código Para o Inferno (1998); Gigolô Por Acidente (1999); O Homem da Terra (2007); Big Stan: Arrebentando na Prisão (2007); H2: Halloween 2 (2009; Transformers: A Era da Extinção (2014);




SPOILER (não leia este parágrafo se você ainda não assistiu o filme): 
A questão de John ser ou não Jesus não é a ideia central do filme. Antes de tudo, é um filme de ficção científica, uma criação da mente dos autores, sem nenhuma base que o sustente. John, na verdade, pode ser visto aqui como uma personificação da visão dos roteiristas sob possíveis textos considerados apócrifos e de correntes do gnosticismo que apontam um outro Jesus que não teria, supostamente, sido incluído no Concílio de Trento pela Igreja Católica ente 1545 e 1563, sob a regência papal de Paulo III (ainda assim jamais seria um "homem das cavernas" evoluído - haja criatividade !!!.) Para os personagens, John apresenta-se como tal. Para quem assiste deve ser visto como uma conceptualização daqueles que acreditam que os textos bíblicos oficiais poderiam omitir passagens que os outros manuscritos rejeitados revelariam. Essa é a sutileza que deve ser percebida por quem assiste e em nenhum momento o filme deve ser tomado como algo que traga alguma informação verídica, por isso é uma obra de ficção. E é preciso ter um bom conhecimento de história da humanidade para compreendermos totalmente o filme. De acordo com que adquirimos mais conhecimentos ao longo da vida, mais informações que o filme transmite tornam-se perceptíveis.  >>>>> FIM DO SPOILER